sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Pacientes em Estado Vegetativo Comunicam com Médicos


Novo scanner cerebral permite modular pensamentos de doentes





Técnica de Imagem por Ressonância Magnética funcional (Imagem: Coma Science Group)
Técnica de Imagem por Ressonância Magnética funcional (Imagem: Coma Science Group)
Uma colaboração entre duas equipas médicas, de Liège (França) e Cambridge (Reino Unido), permitiu descobrir que um paciente, considerado em estado vegetativo durante cinco anos, podia comunicar – com respostas de “sim” “não”, unicamente por pensamento. Os investigadores do Coma Science Group, da Universidade de Liège, trabalharam em parceria com a unidade Medical Research Council’s Cognition and Brain Sciences da Universidade de Cambridge, para desenvolver um novo método que permite a pacientes incapazes de se mexerem ou falar, comunicarem com o mundo exterior por meio de novas tecnologias de scanner cerebral. Os resultados foram publicados esta semana no «New England Journal of Medicine».


Steven Laureys, do CSG
Steven Laureys, do CSG
Em 2003, um homem de 29 anos sobreviveu a um grave acidente de viação e, após ter acordado de um coma, foi considerado durante cinco anos, estado vegetativo. Mas, graças à técnica de Imagem por Ressonância Magnética funcional (IRMf), a sua actividade cerebral foi gravada, quando respondia “sim” e “não” a perguntas simples, como “O nome do seu pai é Thomas?”, por exemplo.


A técnica já tinha sido experimentada em pessoas saudáveis e permitiu descodificar respostas cerebrais com uma precisão de 100 por cento. Agora, foi testada pela primeira vez num paciente que não podia nem falar nem se mexer, de forma a exprimir o que sentia. O doente foi examinado pela equipa médica de Steven Laureys, do Coma Science Group, que confirmou que este era completamente incapaz de comunicar sem o scanner.


“Ficamos completamente aterrados quando verificamos os resultados do scanner do paciente”, assinalou Owen, da Universidade de Cambridge. Segundo o investigador britânico, o paciente “foi capaz de responder correctamente a várias questões e simplesmente, modulando pensamentos – que, de seguida, foram descodificados pelo IRMf”.


Sinais de consciência


Actividade cerebral registada (Foto: CSG)
Actividade cerebral registada (Foto: CSG)
Os resultados figuram nas conclusões do estudo realizado durante três anos pelas equipas franco-britânicas, em que 23 doentes cujo diagnóstico assegurava que se encontravam em estado vegetativo foram scannarizados. O novo método de IRMf permitiu detectar sinais de consciência em quatro deles (17 por cento). O mais surpreendente foi o facto de estes conseguirem responder positiva ou negativamente, mudando a actividade cerebral.


A descoberta levanta questões importantes de ordem clínica:“Pacientes conscientes, não podiam mexer-se nem falar para transmitir o que sentiam, podiam agora ser interrogados sobre dores e facultar a possibilidade aos médicos de adaptarem tratamentos adequados”, declarou Audrey Vanhaudenhuyse, neuropsicóloga de Liège. Contudo, a investigadora sublinha que isso "não significa que todos os doentes em estado vegetativo estejam conscientes” e “este estudo apenas se refere a pacientes cujo scanner detectou evidências de consciência”.


Steven Laureys insiste: "Este é apenas o início, porque a técnica pode permitir aos pacientes exprimir sentimentos, tomar decisões sobre quem cuida deles e melhorar a sua qualidade de vida”.

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